"ANTOLOGIA DA POESIA PRÉ-ANGOLANA" de Pires Laranjeira - 1ª Edição de 1976
Preço: 20 €"ANTOLOGIA DA POESIA PRÉ-ANGOLANA" de Pires Laranjeira - 1ª Edição de 1976
Especificações
- TipoVenda
- ConcelhoCascais
- FreguesiaCarcavelos e Parede
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Descrição
"ANTOLOGIA DA POESIA PRÉ-ANGOLANA"
De Vários Poetas Angolanos
Prefácio, estudo, seleção e notas de Pires Laranjeira
1ª Edição de 1976
Edições Afrontamento - Porto
106 Páginas
NOVEMBRINA SOLENE/TRANSMUDAÇÃO DAS ÁGUAS
1
Não era
ainda
o tempo das manhãs lavadas
como noturnas cabeleiras negras
escorrentes e interiormente macias,
ou como o som de um galopar em chão de estrelas,
ou mesmo a cor
de um vinho novo contra o sol.
2
Era o mato,
a mata,
a cor lisa da pedras
e das ramas,
o espinho raso,
a sombra inacessível,
o bruto e agreste piso.
Era a acácia,
rara ampola de umidade verde
concentrando
o derramar espinhoso da temente sede
nivelada
na escura sucessão das copas baixas.
A interminável dimensão do Sul
e pó.
3
Era um mês de nuvens baixas,
volumosas e ocas,
um mês de madrugadas curtas,
já pesadas,
e manhãs de céu palpável,
cinzento e rente.
Era o mês do extremo esforço das ramagens,
das derradeiras hastes
quebradiças ao vento.
O mês das migrações
tardias e arrastadas.
Mês de tributo às águas:
o sacrifício imposto,
a seleção do débil,
do cedente,
do mais pungente olhar brilhante
encastoado na latente anhara
como brasa
derradeira e longa,
entre a cinza
de um ritual de obrigação cumprida.
Era um mês de charcos negros,
elaborados
em profundo rasto de noturna busca,
silêncio e espera.
O mês das derradeiras umidades.
4
Era Novembro,
um mês de cargas raras.
úmido ardor,
goma indecisa,
sobressalto de ar.
De atenção às nuvens e à direção do vento,
consulta às luas e à ligeira referência
de um alado brilho de inseto,
precursor
de um Novembro a derramar-se em suave chuva.
Porque Novembro
o mês difícil, é também
o da mais breve primavera.
Escasso deslize
da mão da tempestade.
6
Novembro
não é mais do que uma
lua solta sem raiz no Leste,
sem poder para embeber a terra
e anular-lhe
a face empedernida e velha.
Mal se desloca a sombra
na paisagem
e as hastes permanecem vegetal grafia
a destacar-se
num céu aquém de encostas confundidas.
E nem anula o pó
do trote das manadas
à volta das cacimbas,
e nem os animais ainda aspiram
urgência de viagens.
A chuva de Novembro
traz a marca
da podridão latente
(o que escurece
o grão da perspectiva,
acama a derradeira espiga
preservada
e marca de impotência
o som redondo
que se projeta curto).
11
Porém se o tempo pára
as serras se avizinham
e o vento é leste e a manhã sonora;
se os homens se despedem das mulheres e abalam
sem destino,
os cães trotam e latem receosos
e os animais bravios
não se ocultam;
se o mar se ouve ao longe
e os comboios
nos vêm recordar
o cansaço desmedido das viagens,
13
Talvez até
(porque se arrasta
desmedida
a calma e aguarda
a lua negra e nova)
um ato de mistério
venha arder
na puríssima e última alvorada:
um estupro; um crime;
em ai de carne acesa, penetrada,
que vá verter-se
em bocas deslumbradas de crianças;
a morte de um profeta;
a entrega oferecida de uma fêmea menstruada
que esconda em si um útero de espinhos
e um destino de exílio.
14
Em verde estala então a estação crua
que desponta em branda nata
e se povoa
da coletiva sede transumante.
16
Fazem-se os rios,
despontam os capins,
passam rebanhos
e cruzam-se recados de água achada.
Seguem-se o rasto de mensageiros
demandantes de outras pátrias para os seus gados.
Atingem-se murmúrios de manadas,
sofreguidão liberta a derramar-se em dambas.
Despertam-nos vagidos de recentes crias
paridas coma água pelos caminhos
e o seu olhar serve de espelho ao verde
de que se faz o leite a derramar-se
farto
na áspera ternura dos seus beiços.
Cortinas
de excitante e odoroso cio
tolhem a ,archa cega de corpos luzidios
para embeber pulmões e enrijecer
a quadratura sólida dos machos
donde escorre a nata
espessa, excedente
e nacarada,
que redime a espera ultrapassada.
17
E faz-se gorda a terra
e lhe estremece a carne-madre farta,
contente e abundante,
saciada,
bem parida e já refeita,
acarinhada.
Sobram quindas de mel pelas vertentes
E o peito escorre, generosos e alto.
Dorme a terra em verde e luz
imensurável mesa de um anual banquete
que festeja
a imanência fêmea e mãe
da natureza.
19
Porque o deserto é macho
e avaro do gesto
e se projeta em julho
triunfante
tangendo os seus rebanhos transumantes
Que vota ao céu
de novo couro seco
e à lua,
que detém as águas
e ao vento,
domador da anhara
e à noite setembrina,
propícia de loucura e de uma irreversível
votação ao sul.
Excertos do POEMA DE RUY DUARTE DE CARVALHO (Pág. 78 a 85)
---
José Luis Pires Laranjeira (Melgaço, Portugal, 1950) é um professor e escritor português especializado nas literaturas africanas.
ESGOTADO E RARO
CAPA COM ALGUNS SINAIS DE USO, MIOLO ÓPTIMO
PORTES GRÁTIS
De Vários Poetas Angolanos
Prefácio, estudo, seleção e notas de Pires Laranjeira
1ª Edição de 1976
Edições Afrontamento - Porto
106 Páginas
NOVEMBRINA SOLENE/TRANSMUDAÇÃO DAS ÁGUAS
1
Não era
ainda
o tempo das manhãs lavadas
como noturnas cabeleiras negras
escorrentes e interiormente macias,
ou como o som de um galopar em chão de estrelas,
ou mesmo a cor
de um vinho novo contra o sol.
2
Era o mato,
a mata,
a cor lisa da pedras
e das ramas,
o espinho raso,
a sombra inacessível,
o bruto e agreste piso.
Era a acácia,
rara ampola de umidade verde
concentrando
o derramar espinhoso da temente sede
nivelada
na escura sucessão das copas baixas.
A interminável dimensão do Sul
e pó.
3
Era um mês de nuvens baixas,
volumosas e ocas,
um mês de madrugadas curtas,
já pesadas,
e manhãs de céu palpável,
cinzento e rente.
Era o mês do extremo esforço das ramagens,
das derradeiras hastes
quebradiças ao vento.
O mês das migrações
tardias e arrastadas.
Mês de tributo às águas:
o sacrifício imposto,
a seleção do débil,
do cedente,
do mais pungente olhar brilhante
encastoado na latente anhara
como brasa
derradeira e longa,
entre a cinza
de um ritual de obrigação cumprida.
Era um mês de charcos negros,
elaborados
em profundo rasto de noturna busca,
silêncio e espera.
O mês das derradeiras umidades.
4
Era Novembro,
um mês de cargas raras.
úmido ardor,
goma indecisa,
sobressalto de ar.
De atenção às nuvens e à direção do vento,
consulta às luas e à ligeira referência
de um alado brilho de inseto,
precursor
de um Novembro a derramar-se em suave chuva.
Porque Novembro
o mês difícil, é também
o da mais breve primavera.
Escasso deslize
da mão da tempestade.
6
Novembro
não é mais do que uma
lua solta sem raiz no Leste,
sem poder para embeber a terra
e anular-lhe
a face empedernida e velha.
Mal se desloca a sombra
na paisagem
e as hastes permanecem vegetal grafia
a destacar-se
num céu aquém de encostas confundidas.
E nem anula o pó
do trote das manadas
à volta das cacimbas,
e nem os animais ainda aspiram
urgência de viagens.
A chuva de Novembro
traz a marca
da podridão latente
(o que escurece
o grão da perspectiva,
acama a derradeira espiga
preservada
e marca de impotência
o som redondo
que se projeta curto).
11
Porém se o tempo pára
as serras se avizinham
e o vento é leste e a manhã sonora;
se os homens se despedem das mulheres e abalam
sem destino,
os cães trotam e latem receosos
e os animais bravios
não se ocultam;
se o mar se ouve ao longe
e os comboios
nos vêm recordar
o cansaço desmedido das viagens,
13
Talvez até
(porque se arrasta
desmedida
a calma e aguarda
a lua negra e nova)
um ato de mistério
venha arder
na puríssima e última alvorada:
um estupro; um crime;
em ai de carne acesa, penetrada,
que vá verter-se
em bocas deslumbradas de crianças;
a morte de um profeta;
a entrega oferecida de uma fêmea menstruada
que esconda em si um útero de espinhos
e um destino de exílio.
14
Em verde estala então a estação crua
que desponta em branda nata
e se povoa
da coletiva sede transumante.
16
Fazem-se os rios,
despontam os capins,
passam rebanhos
e cruzam-se recados de água achada.
Seguem-se o rasto de mensageiros
demandantes de outras pátrias para os seus gados.
Atingem-se murmúrios de manadas,
sofreguidão liberta a derramar-se em dambas.
Despertam-nos vagidos de recentes crias
paridas coma água pelos caminhos
e o seu olhar serve de espelho ao verde
de que se faz o leite a derramar-se
farto
na áspera ternura dos seus beiços.
Cortinas
de excitante e odoroso cio
tolhem a ,archa cega de corpos luzidios
para embeber pulmões e enrijecer
a quadratura sólida dos machos
donde escorre a nata
espessa, excedente
e nacarada,
que redime a espera ultrapassada.
17
E faz-se gorda a terra
e lhe estremece a carne-madre farta,
contente e abundante,
saciada,
bem parida e já refeita,
acarinhada.
Sobram quindas de mel pelas vertentes
E o peito escorre, generosos e alto.
Dorme a terra em verde e luz
imensurável mesa de um anual banquete
que festeja
a imanência fêmea e mãe
da natureza.
19
Porque o deserto é macho
e avaro do gesto
e se projeta em julho
triunfante
tangendo os seus rebanhos transumantes
Que vota ao céu
de novo couro seco
e à lua,
que detém as águas
e ao vento,
domador da anhara
e à noite setembrina,
propícia de loucura e de uma irreversível
votação ao sul.
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---
José Luis Pires Laranjeira (Melgaço, Portugal, 1950) é um professor e escritor português especializado nas literaturas africanas.
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